domingo, 13 de setembro de 2009


Na minha primeira publicação em Coletâneas está aqui a poesia selecionada:

De Sal e sol ,Solidão

Minha solidão se prolonga por todas as folhas desta casa
abre-se em cada grão de dia onde permaneço deitada
em busca do sonho em busca do sonho....
Meu silêncio se propaga por todos os sons desta casa
enquanto a natureza dorme,sinto o só...
beijo o só,cheiro o só...
minha solidão tem raízes,tem textura,tem cor...
minha solidão é abrigo e abismo...
minha solidão é minha amante,minha namorada
minha solidão é minha graça,minha camarada
ela não se alimenta nem de escuridão nem de clarão
minha solidão é alta,é morna,é líquida...
jorro seus versos em água pela sala...
rastro de sal.rastro de sal.
Resto de sol.resto de sol.
Minha solidão é ereta,é firme
mas é sim impiedosa,
cruel
por ora tem gosto e tom amargos.

Flô
Muito feliz por ter participado desse livro!
o Primeiro de muitos que virão!amém!



"Adélia Coelho, revelação nos saraus da cidade, como no projeto NÓS PÓS, abre magistralmente o livro, evocando a solidão com versos de fortes metáforas e imagens poéticas: Minha solidão se prolonga/ por todas as folhas desta casa/ Abre-se em cada grão de dia/ onde permaneço deitada/ em busca de sonho.../ (...) Minha solidão é alta,/ é morna, é líquida.../ Jorro seus versos em água pela sala.../ Rastro de sal. Rastro de sal./ Resto de sol. Resto de sol./ Minha solidão é ereta, é firme/ mas é sim impiedosa, cruel;/ por ora tem gosto e tom amargos (De sal e sol, solidão, Adélia Coelho).

Recomendo, sim, a leitura dessa antologia, principalmente para quem deseja traçar um perfil mais consistente da poesia contemporânea em Pernambuco, especialmente, mas não só, dos poetas mais jovens."


ANDRÉ CERVINSKIS é escritor, ensaísta e Mestrando em Lingüística – PROLING-UFPB





De olhos apertados e saudade

é como se em cada novo abraço

que viesse ao meu caminho

ela também viesse...

os filhos do sol sabem bem

tecer a noite em meus olhos

raparo bem a hora

que tenho que cruzar as avenidas

e desmaiar os sonhos dos beijos nunca tidos

De olhos apertados e saudade

todos eles de repente nascem mesmo,

do meu colorido ventre

decoro os nomes

mas gosto mesmo é do carinho

os filhos da lua

sabem bem tecer o sol em meus pés

alegria apertada nos olhos

euforia,gritaria,cantoria

meus meninos sábios

me colhem como se eu fosse mesmo sua flor do dia

como se todos soubessem que em meu campo agora

todo o algodão

tem saudade

e eles forram bem,

forram bem

meu coração fantoche solto

eles são poesias vivas pela cidade.




Adélia Coelho 2009

para os meus Danadinhos





Pastores de trigo


sai e deixei meu medo trancado


meu medo está magro


meu medo definha,e nem sabe o por quê


meu medo osso que imobiliza a chuva


no mesmo quintal fétido de merda


e saio para pintar-me inteira de vermelho


parabrisas sorriem descontroladamente


quando passo,imersa em meu vermelho


pastores de trigo


a mesma travessia toda quinta-feira


vou ver os filhos do sol


buscar um pouco de abraço


na luz da Caxangá


sai e deixei meu medo trancado


Magro medo


faminto medo


saio para despir-me inteira do azul


pastores de trigo


todos os meus meninos


cantam,dançam,imitam,semeiam,


quando passo afogada em meu azul


Minha mãe,ali nos arrepios


de cada palavra tecida do amor


Minha mãe ali na boca dos filhos do sol


Meu destino toda quinta- feira


é trancar o medo nos fundos da casa amarela


e ir buscar meu colorido


através do afeto que emana


daqueles meninos..


heróis do próprio caminhar


pastores de trigo.










Adélia Coelho 2009


em homenagem aos meus Alunos incríveis!


Não te procuro pelo vazio
nem te chamo
através dos tijolos antigos
porque sem compreender exatamente
sei que estás
que continuas
que adificas
cada hora traçada
e vivida de nosso amor
quando consigo escrever
aqui estás
quando consigo vencer
aqui estás
soprando os arrepios familiares
não te procuro pelo vazio
porque no imenso
qua ainda existe cravado em nossas almas
ainda estás
não te chamo através dos tijolos antigos
porque agora teço novo abrigo
para nosso iminente reencontro.


Adélia Coelho
amo-te como sempre e eternamente.2009




Dentro: o raio apontando
corra para fora
estreitando
siga, corrente inversa
estigmatizando
umbigo relaxado
umbigo lerdo
umbigo afrontando
dentro: o raio
corra para fora
lanterna em cada dedo
espalhe aversão
jogue inventando
siga,enchente controversa
repúdio,larica,boa inveja
faça do encontro de umbigos a festa
conectando...
conectando...


Adélia coelho


Quero teu carinho desmantelado
pelas pernas
beirando a cafonice do tédio
tateando uma loucura camuflada
quero boca seca,atrelada
lambuzando de horror o bom senso
quero o persuadir de tuas lanternas
covarde!Covarde!
Sugando a doçura
como forma encardida de ser
Sou suja porque sou humana demais
quero mesmo é teu carinho desmantelado
quero o desmantelo dos móveis
desmaiando um a um
sobre a cama dos meus sonhos
zarolhos
quero o descontrole do tronco
quando os membros lembram
do caos de fora
quando dentro a festa é ginásio lotado
de ah Recifes!
quero teu carinho desmantelado
pertubando os tímpanos
agonizando a breguice
dos beijos de um sempre antigamente.

Adélia Coelho 2009-10-09

A fome do outro
a dor do outro
ele é a tv.ele é a tv.
Não mais,talvez nunca o tenha assistido
sem trocar os canais
meu desgosto é a tomada fervendo
ligue a tv.durma a tv.sonhe tv.coma tv.ame tv.
A fome do outro
a dor do outro.
o outro e sua tv.
meu canal saiu do ar
hoje é sábado e minha boca esperava
a visita de qualquer bebedeira de sonho
de qualquer frio na barriga,perceptível.
Minha fome,minha dor
Eu não sou a tv.
Desligue-me!DESLIGUE-ME!
Acenda meu corpo,ele quer cantar a noite toda
meu corpo quer música.
Adélia Coelho 2009

As figuras guardadas
a troca de posição
Dos móveis
dos dias
dos referenciais
dos sonhos
As figuras trocadas
A posição estreita
Dos homens
dos cães
dos tijolos
dos enlatados
Os sentidos...
todos figurados.
Configurem
esta caneta falha
este desgaste sólido
toquem na tinha!
toquem na tinha!
desfaleçam comigo
em cima do ventre da lua
cama quente da ternura
bacia sincera dos banhos de ontem.
Adélia Coelho 2009

A pedra de meu corpo
asfalto quente,desmanchando o tempo
dentro da boca o dente aberto
dentro da boca o filho aceso
a pedra de meu corpo
esfinges,estátuas,estetoscópios
o álcool distante do verso,branco amarelado
sábado papel!sábado papel!
solidão de esgoto,frágeis decapitações
joguem as cartas,embaralhem os sexos
em cima das bolas de Brennand
as bailarinas enlouquecidas
caleidoscópios de ventrículos absurdos
Derrubaram Chico Science!
Socorram seus escombros!
a pedra de meu corpo
ávido por instrumento
pincel,espátula,martelo
derrubem minhas imperfeições!
minhas mãos caleijadas de sonhos
espreitem a preciosa ilusão
a pedra de meu corpo
fogo adestrado
rastro magnânino de rejeições
asfalto quente,desmanchando o tempo
os que querem morder minhas ruas
afasto com sinais escancarados
aqueles que não atravessam minhas pontes com língua
chamo com semáforos violados
fervo em tecidos luminosos
evaporo-me com os desejos longuínquos
quem poderia adivinhar?
por qual curva minha pedra se acha?



Adélia Coelho 2009

sábado, 12 de setembro de 2009


Fico aqui no meu quarto,olho para os lados,vejos nas fotografias,nossas marcas...identidades,nossos lugares,espaços,caminhos...Ontem segurei firme minha barriga imitando uma grávida,tentei imaginar que significado tem,que dimensão esse amor projeta.Tive apenas uma idéia superficial e já me encheu os olhos de um brilho feliz.Só sabereis o quanto fosses feliz comigo,quando chegar minha hora de ser mamãe também.Se Deus também me permitir essa bênção.Cada parabéns de cada aniversário,a primeira pessoa a me acordar e me surpreender com carinhos,palavras e olhinhos cheios de amor...Nossas poses quando possuíamos o terraço e o jardim da frente,minhas manhas,meus bicos,minhas frescuras,e teu cheiro e colo mágicos.


Nossos passeios a beira mar de rio doce,teus elegantes passos,heroína perfumada,o lençol da cama antiga d emadeira,eu bêbê deitada feito boneca e você a fotografar cada pose de nênê manhoso,meus bonecos,meus carrinho,o parque 13 de maio,os primeiros sofás coloridos...As primeiras brincadeiras e mamadeiras na gostosa cadeira vermelha,as trelas na escada,as maçãs raspadas,o feijão com macarrão e farinha que Maria fazia...Minhas bonecas:Amore e Chupetín,a mudança dos quartos,a história desta casa,a cor amarela,os móveis dos antepassados,heleninha brincando comigo na marra,você toda arrumada sempre nos momentos mais importantes da minha vida,na crisma,na formatura,nas peças,sempre na primeira fila,aplaudindo,vibrando,nas reuniões do colégio,nos aniversários,nos momentos d egrande emoção e tranformação,quando conheci papi,quando fui para faculdade,quando tive meu primeiro emprego,recebi meu primeiro salário,quando menstruei,quando me apaixonei pela primeira vez,quando te contei minha primeira vez.


E todos os chôros dos términos dos namoros,nos teus braços,e todos os medos,angústias e inaseguranças de adolescente,todas as descobertas compartilahdas contigo,tudo em teu colo...Todos os Natais e ano novo,em Bonito com uma cumplicidade plena,um compenheirismo mágico,entendimento mútuo,nossos abraços fortes,nossas dancinhas na sala(are baba),na hora das novelas,nossas loucuras,nossas compras desefreadas,nossas gargalhadas,nossas longas conversas sobre a vida,nossos longos anos dormindo juntas,agarradinhas,você cuidando de mim nas doencinhas.Trazendo comidinha na cama,beijando,me acarinhando,dando massagem nos meus pés,tanta coisa Mamy,as lembranças boas são tão maiores que a fase negra.


Nossos passeios de mãos dadas em cada fase diferente,a feirinha do Antigo,o suco de abacaxi com hortelã,minha querida, sua vida foi abençoada sim,seus amores,as viagens,o Direito,seu trabalho,suas fantasias e farras encantadas,sua alegria e enpolgação,seus anos de aprendizado em vários sentidos no convento,sua história de infância mágica no Engenho Jardim com seus irmãos ainda unidos,todos iguais na essência da pureza,entre bonecos,cidades,índios,amigos,bailes e separações...Você e seu pai tão amado,sua lade Jane,todos os momentos mais lindos!Você venceu sim!Fez uma história bela,foi um ser humano e artista exemplar,muitagente ainda vai conhecer e admirar sua obra pode acreditar nisso.A menina franzina Maria,na porta antiga dos sonhos desliza sob as possibilidadeso Carrinho ainda pode contar histórias,muitas...


AMO VOCÊ!

sua filha Adélia Coelho 2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Guardo tuas cores estampadas
em versos e quadros
em cartas e abraços
todo teu sonho implodido nos dedos
estudo eterno de sabedoria,escondida
por vezes mal absorvida
tuas flores concedidas aos meus braços sóbrios
tua palavra certa na pior hora
teu cheiro de mãe por entre os lençóis mais doces
e tuas cantigas ainda me ninam
me ninam no desespero
escuto tua voz ao longe a me acalmar
a me levar pra perto
também estou aqui e penso tanto em você
o que será agora?
vamos no momento certo saber
vamos descobrir juntas de formas diferentes
como vamos lidar com ausência física
teu rosto cada traço de ensinamento
cada estrada de sofrimento
tentei te salvar,deus queira que de alguma forma
eu(ou você)tenha a salvo.


Adélia coelho 2009


Cada palma da minha mão intacta
a morte tenta borrar tua inicial
e a natureza agora é o colo
que preciso
cada palavra tua,guardada no papel
é voz que salta para dizer baixinho perto de mim:
sagrada é nossa verdade e pedimo-nos perdão mutuamente
nossa história não pode ter fim
nossa história não terá fim
a morte tenta beber gole a gole
os nossos sonos mais pueris
o teu corpo estranho,elemento
dentro de uma caixa
tua casa cansada,obscura
onde você estava?
não te vi naquele lugar sombrio
eu não quis olhar o que restou dos tijolos
eu quis olhar para dentro
as construções maiores,as nossas
cada palma de minha mão
agora mostra teu nome completo
tua graça e teu poema,
desgarrada agora do ódio e do ócio
tuas mãos que agoram acenam para a paz merecida.

adélia coelho 2009



As pequenices todas elas
reunidas num toldo de inquietações
cada balão de sonho descolorido e murcho
o são joão começou enem existe para mim
tua voz doce,na ordem de fazer
a chuva parar de me adoecer
de tapar as fogueiras de toda a rua
com sopros cuidadosos
"Entre,não leve frieza,não se exponha!"
Eu lembro ,tenho lembrado
e dentro dos potes cheios
guardo bem todos os teus cuidados
as pequenices todas elas,nada me diz
mas ainda me dóem
fotografo as poucas cores
que vou percebendo pelo caminho
e te vejo perto,viva e sorrindo
te quero perto minha canção mais querida
minha menina mais linda
toda saudade da lua pertence ao teu olhar
de majestade do amor
minha vida!

Adélia Coelho 2009


Tempestades de faíscas
estrondos melancólicos
cama,vinho,fumaça e sonho mas leio teus lírios
tenho visto tuas flores
pelos cantos de minha morada
mastigo nossas sementes para que aos poucos
a lembrança permaneça
não se compreende a viagem
meu coração parte-se e reparte-se sobre o céu
mas ninguém repara
serei como tu? vigiada e bela
buscando uma cor de felicidade
que ainda não foi inventada?
serei como tu?já o sou.
final da linha,o trem se foi
e não há horários previstos para volta
o céu caiu como um tecido molhado e surrado
esqueceram de apagar as estrelas
e elas dormem em você
teus passos acordam em mim
e por pouco não soube o que fazer das mãos
me mostre o azul,querida
minhas faíscas são beijos para você!

adélia coelho 2009

Olha para o céu meu amor
dentro dos tijolos não mais amarelos
repousas parte de tua substância
a outra reparte-se entre poucos telhados
enquanto a cidade explode os santos
comemoro a morte.
celebro minha dor de alimento também amarelo
aqui num celeiro sem madeira
numa cidade montanhosa e sem lei
aqui onde teus carrosséis sofreram
os primeiros desmaios
filha do fogo,neste vermelho
de estouros escandalosos estás
olha,meu amor,o teu céu
choro todos os instantes
cravados em parte
naquela gaveta cinza
enamoro a morte
lembro de cada partícula de cimento
e cada tijolo fétido que aos poucos
foi tapando(sua?)nossa visão
o buraco na parede se fechou
e procuro você no meu pensamento
durmo a procura do teu olhar
durmo para enbarcar nos teus outros tons de amarelo
perceber se o teu bem foi celebrado
se tua chegada foi pacífica
o teu amor no meu céu
todo dia leio parte do teu ser
entranhado em cada poro do meu
revejo teus escritos e choro
embevecida por ser parte de sonhos tão lindos
a casa amarela se foi..
porque você era sim, boa demais
para qualquer tipo de cor desbotada
o mundo travou uma briga com teu peito
porque você sabia bem pra onde iria voltar
meu peito é parte do teu céu
porque o amor venceu
e a poesia vive
fogo de artifício jorrando,ainda
os teus tons de vermelho lúcido
que poucos tiveram nas mãos
amo-te céu.

Adélia Coelho 2009

Por trás de todas as cortinas
de todos os meus submundos
teus ombros gelados
onde eu encostava meus sonhos mornos
teu sorriso infestado de lamparinas carnavalescas
teus blocos maquiados de colombinas
teus pierrots fugitivos
quando me pegava no colo
era o mundo inteiro que sentia-se
guardado numa gaveta de corações
teu sorriso era uma aula
eu estudava teu sorriso com a misericórdia das rimas
e o desespero de nosso mar de rio doce
por trás de todas as cortinas sombrias
eu via tuas flores,as mais coloridas
me fizeram tua filha
para sempre.

adélia coelho 2009

Tão frágil pele/sonho/morte
tudo tão perecivelmente perene
teu instante supremo
fortes sombras em teu semblante
esperava-me?
Nunca deixei-te, jamais!
recebe agora minhas papoulas
rcebe as valkírias mágias
os girassóis açucarados
teu convento,mensagens lúcidas
vou ao encontro dos teus antigos lugares
todos os esconderijos inspiradores
pedras e hóbitos,escadas e grandes sacadas
tua sensível poesia
ali,por sobre as ladeiras ambíguas
de uma Olinda de antigamente
as homenagens são voos cegos
que sucubem as entoadas
das janelas de tua grande morada
santa Gertrudes de conquistas pueris
tão frágil somos reza/terço/misericórdia
anjos que foram mães
minhas brancas avós
esperava-me?
sempre irei ao teu encontro
quando assim quiseres.


Adélia coelho 2009

Abri o quarto
tentei tapar os poros
mas a televisão não deixa
abri as portas
tentei acalmar os pêlos
mas a saudade não deixa
escuto mais sobre remédios
e tomo algum..
acho as bulas..
todas elas pela casa
decoração de insanidade...
recorto as bulas e colo-as
pelas paredes do corredor que levam além
abri o quarto
coloquei tapete rosa
tudo límpido agora
e o vazio visível
toma conta
e a cegueira temporária invade
e devasta tudo que penso ver
ilusão.esta casa enorme
meu vazio enorme
tentei tapar os poros
fechei meu cixão
não sei onde a morte se esconde
agora,bebo...
e entro noutro quarto
também antes povoado de sonhos
eles estão aqui
minhas flores são as mesmas
estamos juntas!
boa noite minha mãe querida.

adélia coelho 2009

O corpo virgem caminha
o tapete ainda está tonto
e todo alimento é trôpego
e todo vinho é começo
a expressão mais absurda
de qualquer cansaço entranhado
o alcoolismo barato
o fantasma que anda ao contrário
o gosto doce explode na boca
fogos de artifícios lúcidos
a falta de grama verde
o doce que salta da língua
cuspindo serpentes
grama vermelha
o fim do gosto na rolha
salgada de possibilidades
e toda magia da alga
bem fora do mar
voando sob água
o corpo virgem engole caminhos
e a tv abraça as pedras
e não há pedras nem serpentes
e todo o alimento passa despercebido
em minha boca morava o beijo do sonho.

adélia e Bruno.2009

Extremos
o medo encolhido
ferido,com frio
no canto dos fundos silêncios
escavações mitológicas
suores precipitados
chamei-a por todos os ecos
trancada estava!
trancada estava como o medo.
o medo pálido
de olhos abertos evidencia:
"você é extraordinária"
mas como...
meus extremos partidos
os gritos negativando a visão
os socorros estranhos
os últimos..
meu decote faminto
nesta noite embriagada
de qualquer domingo
evidencia:
ainda vejo suas pernas sem vida
ainda vejo todas as lâmpadas acesas
e teu corpo apagado
silêncios.
mas você está aqui
dizendo-me:"calma!nada acabou"
devo acreditar no que vejo ou no que sinto?
alívio,entrei num carro,respirei.
acabou a tempestade
a chuva de hoje por diante é só saudade.

Adéliacoelho 2009

A magia de meus cabelos esquecida
passou o brilho
o cheiro ficou em algum lugar desconhecido
qualquer tela é mais prazerosa
que meus olhos projeção faminta
teu corpo magro,imaculado
rejeita-se a cada magia alheia e oculta
nenhum clima é satisfatório
se tua saliva não descobre o sabor
do meu verdadeiro ninho
estava aqui do teu lado
e não,não me olhas nos olhos
sabes de uma coisa?
estou exausta!
desta tua falta de magia
e desta tua indisposição de perceber
a magia que habita em mim
e que por tanto tempo
pensei habitar em nós
a magia dos meus cabelos esquecidos
qualquer tela é mais perigosa.

Adélia Coelho 2009

O bule antigo
cada cômoda de ferrugem flexível
o bule amigo
café de todas as horas desesperadas
cozinha psicografada
hoje sou eu que povou cada pedaço cerâmico sentimento
bule antigo
entranhada gordura
que guarda todas as culpas
amanhecidas fugas
deslizes sonolentos
barulhento fogo a cozer os nervos
a velhice dos armários a expiar os ventos
todas as vezes que a mesma porta se abriu
nunca mais.
o bule antigo
o café amargo de todos os dias
na mesma hora
controlando os mais variados tremores
o suor frio das previsões
cada camada de parede amada
o bule amigo
hoje através da água
conversei com o sebo
guardado entre a pia e o passado
guardei o bule
ainda não aprendi a tomar café.

adélia coelho julho de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Caranguejo estrangeiro
lama tinta do teu caos
querendo nascendo cuspindo!
preso pela culpa dos outros
a coroa do jesus culpado
a coroa do jesus alheio
perdão!perdão!
"Foi o vento de agosto!'
disse o rasta vendendo pulseirinha
Jesus!benfeitor!apaziguador dos transeuntes
gira em torno do toco do mundo
gira amarrado numa cela
Lama de cristo tem poder!!
derrama teu pão sobre o corpo imóvel
escorre o sangue dos outros
no teu pênis envergonhado
as cordas te soltam
no dia da abolição
CHICO Science te ressucita
sai do teu corpo
estátua de palha
pára de pedir desculpa
caranguejo mórbido
lama de cristo tem poder!!
esfrega teus olhos nesse manto manchado de caos.


Adélia Flor
-Sobre intervenção de Biagio na estátua de Chico-

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Minha boca parece pôdre
e meus braços infestados
de bactérias mortais
meu colo parece inexato
minhas pernas curtas
e meu ventre mórbido
todo meu amor parece pouco.
meus cães continuam trancados e com fome
tudo que sou continua livre e com fome
Minha boca te parece apetitosa?
e em meus braços cabem teus sonhos?
onde finda teu mundo e começa o nosso?
o que sobre do corpo quando ele não é mais alimento?
o que resta do amor quando descobrimos que ele nunca foi verdadeiro sustento?
tire sua falta de vontade de cima de mim.chamo para perto
e te afasto sem nexo
agora cansada,desconverso
vou deságuar no branco
tinta misericórdia eu peço!
vontade do outro eu impesso.
dor profunda consagra este meu verso.


Adélia Coelho

A luneta/a luneta
toque-a segure-a bem
consegue vê?
cada traço da ponte percebe a saída
sentes?consegues sentir?
a luneta está ali a espera que alguém a manuseie
ela é apenas instrumento
cada sinal da estrada entende a pedida
a luneta está aqui
a noite,espera-te
a lua,espera-te
as janelas afoitas
querem ver-te pular seus olhos sob o céu e ver-me...
ver-me
atrapalho-te?
a luneta sou eu
a espera que o outro veja a lua
através de minhas lentes.


Adélia Coelho


O rabisco desaparece contra o peito
e o papel quer reinventar
chamo com cílios pra perto
afasto com o desejo mais incerto
o rabisco desenrola-se ao longe
imperceptível demora
não sei que tempo é esse
a espera da tinta?
a espera de outros olhos?
teimo,seguro as últimas linhas
de uma poesia que nunca foi minha
evoco,quebro,rasgo
disfarço os meus pés
dançando a esperança
os olhos fogem ao lado
as mãos desfalecem no próprio colo
a boca,cansada sangra
e o coração que desiste, apaga de vez
o desenho que só ele queria ver.

Adélia Coelho



Dentro de minha barriga
coleções de fetos mumificados
múmias lunares
pequeninos órfãos
Ainda não sabem que morrerei.
Não belos espermatozóides,
não sois imortais!
Espirro os óvulos
despejo certezas
mergulho identidades
meu parto é flagelo
meus filhos são inverdades
herdei do sol o medo
e no escuro brinco que tenho olhos
dentro do meu breu existe sonho
dentro da caixa listrada do sexo
há mais que substância orgânica
há desprezo humano.
Dentro de minha barriga
os tonéis de esperança deságuam nos pés
bolsa d água incandescente
meus pequenos indigentes
meus inversos soterrados
dentro do devaneio vi um gôso
era estrela cadente
era longe e era certo
infinitamente rápido e livre
era meu filho homem
atravessando meu juiz
era meu filho homem passando sobre meus espasmos
o único suspiro silencia,outrora em prece
repouso agora,certa que meus filhos voam.
para dentro...
para dentro!


Adélia Coelho




Quero arrancar as raízes das minhas pantorrilhas adoecidas
cruzar as veias,desviando o rio
tornar as correntes soltas
destrinchar o trinco dos mudos
quero empalhar as buzinas do ontem
e atravessar as lamparinas do medo
escurecer cada fio de perna que me atravessa
quero conceder o goso alheio/diverso
jamais comedido universo
quero arrancar as raizes de minhas pantorrilhas adoecidas
meus pêlos sujos arrastados pelo caminho
atados/emaranhados
noutro corpo qualquer
meu sangue lilás quer vinho
meu corpo azul quer saber adormecer
meus dedos brancos pensam que sabem dançar
e minha cratera sedenta
quer se recolonizar
atmosferas suspensas
todos os joelhos choram
ajoelhando suas culpas sobre os terços
meus olhos querem sargaços amorais
meus seios querem famintos adestrados
sarnentos homens que não percebem o vulcão ao lado.

Adélia Coelho

Quem sou eu

Minha foto
Eu vou,atrevida,pisando nos relógios sento-me nos relógios sou a bailarina da caixa de música que dança em cima dos ponteiros e ilumina mesmo sem querer o outro lado das batidas do tempo... Flô