quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Cartas a Minha Mãe
Flô
Flô
Meu verso escuta ao longe
outros tipos de dons
não percebo bem
a tal genialidadeque tanto falam
percebo a falta
o ronco tangido da insegurança
meu sono me sabota
os cílios lentamente envenenam
minha prole de versos exóticos
hoje em dia nada é tão inovador,inédito assim
meu verso lê de longe os olhares
astutos e sábios dos que já cresceram o suficiente
patos,gansos,galinhas,bois,tatus,vacas e oliveiras...
Todo tipo de animal que chega longe
veados translícidos que beiram a esquisofrenia
e que mal tem domesticar um bicho com problemas psiquiátricos?
atestei como doutora de nada que sou que dentro de mim
há uma poça profunda de preconceito
aceito o sexo que se encaixa e se reedita
e onde ficam os rouxinóis que não podem posar nas pedras?
meu verso fotografa e constata de longe
que minha maldade é perpétua e que preciso me libertar
deste caos de insolúveis constatações
que me enfurecem e me desconcertam
hoje,posso dizer que minha fome é ingrata
e se minha vagina é um pênis deserdado
quem é homem?
e quem é mulher?
amo o ser Hum AMO.
Flô
Teus dedos escavaram meu buraco azul
gosei em tuas mãos
meu orgasmo nasce dos teus dedos
lâguidos gemidos implodidos
madrugadas meladas do doce de amanhã
meu goso nasceu das tuas mãos
tua mão inteira auscutando meu remorso antigo
e dedilhando minhas cornetas azuis
tua mão inteira dançando dentro do meu útero
como se pescasse a luz dos próximos filhos
tua inteira mão
sugando minha libido disfarçada
tediosa no medo persisto como se andasse cedo
vou buscando alguma desculpa
esfarrapando meus poucos delírios
tua mão inteira invadindo meu ventre
te engole concha despercebida
que te devasta virgem recolhida
tua mão inteira massageando meu átrio esquerdo
como se recolhesse o limbo de outras nuvens
tuas mãos sobre meus seios
peso sagrado do outro mundo
consagro agora o palpitar que gira,salta e queima no ar
confesso agora que tua mão entrou inteira em meu corpo
e por pouco não me fez voar.
Flô-09
no reflexo do meu banheiro
vejo cenas
vejo cenas
passadas pelo buraco do vasculhame antigo
onde pouco sol adentrava quando o sonho era aceso
deito-me e me vejo nesse espelho que cobre meu céu
meu chão é de vidro e me mostra o corpo que mente pra mim
meu corpo é do espelho,meu corpo não me pertence
o corpo luz que se instala cada dia em águas distintas
é de outro,essa que vejo perto de mim quando me deito é feita de azulejos do século 19
no reflexo do meu banheiro
a expressão é de um passado que está na água
nua espio meu sexo esguio
nua beijo minha sombra deserdada
tinha tantas irmãs quando esse banheiro refletia brilho
o escuro agora é de dentro
e nesses azulejos vejo as quedas trágicas de um ontem perto
vejo meu destino preso e talhado no mesmo vidro que desvendou minha mão
vejo cenas
vejo cenas
passadas pela encanação quebrada desde o ano retrasado...
onde pouca água limpava o suco gástrico que me matava aos poucos
minha poesia dilúida em neve,em nuvens de algodões alcoolicos
deito-me e deixo-me auscutar pelos vidros que existem do outro lado desta mesma terra.
Deito-me e deixo-me transar com meu espelho fiel
o que pode ser mais fiel,que essa imagem
mais morta que minha alma?o quê?
Flô
Flô
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Flô
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
o carnaval de fora é tedioso
o carnaval de dentro pega fogo
o sangue sem flor
a cama as avessas
a falta do verso
a falta do terço
leio meus livros sozinha
leio os meus livros hoje em silêncio
escondida sobre os escombros
das derrotas infindas
receio outro nó no peito
e quando mesmo ele desata?
quando mesmo ele redescobre a primeira esquina?
o sangue conDor
adentra minha vulva como uma poça quente
uma poça suja de desejos roubados
ave segura que mata a cada amanhecer
ontem sonhei com o beijo
ontem,o sangue foi nuvem clara
meu sangue ontem não tinha nervos
há dias escrevo tudo no ar
o meu sangue incolor
o meu sangue incolor atesta:
minha cama está cheia de lôdo...
meu corpo não quer descanso
para não lembrar que ainda arde.
Flô
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Eu dançava dentro dele
é de manhã agora
estou na sala
enrolada no lençol
ele dorme em minha vagina
ele dorme quieto auscutando as vibrações do meu sagrado
ele é todo.
único.
infindo.
TODA fORÇA DE um homem,em seu extremo
toda força erguida de um homem em seu enxerto.
Minha dança desenha versos.
Acabo dormindo e me esqueço
minha caderneta é o sonho,lá continuo a dança
o que posso fazer se esta música insana me acaricia
o que posso fazer\deste cansaço fértil
o sexo me habita,minha religião é um pênis macio
minha religião é grandiosa e crescente
dentro de mim ela arde,esperando misericórdia
dentro do meu salão,deixo-me percorrer por teus passos e galopes febris
sinto tua pele fervendo e se abrindo como um rio que sente que vai morrer
morres em mim como o tempo nas árvores,passando despercebido
enquanto a aurora gosa de saudade
minha dança desenha versos..
e teus lábios cansados costuram valsas azuis
este momento é suave e violento
quero te comer por todos os lugares
que teu olhar se estenda
dentro de você há um fogo que alimenta meu dragão
minha fada cansou de voar por sobre livros encantados
minha fada agora tirou a roupa e gosa,gosa gosa até voar para seu lugar de origem.
Flô
Dentro do cálice o sêmen
goles densos de tediosa liturgia
no branco dos tecidos papaes
as manchas do sêmen
jorrado antes da clausura
dentro deste sagrado confiscado
o sexo,garra enjaulada
fera melada,negra mudada
dentro do cálice da tua missa
a imagem
será que estou sendo expurgada agora
nesse exato momento
brinco com o branco das batas dos padres
brinco com o marrom dos hábitos dos frades
e tomo,tomo lentamente o sêmen
quando se jorra uma esperança
o ouro derrete-se em corpos mutilados
embaixo dessa igreja há um santo
um santo que morreu virgem
um santo que não conheceu seu próprio sêmen
a cerimônia é iniciada com esmero
todos os cortinados acesos nos olhares valiosos
o papa quer falar,dê-lhem a voz
presenteiem-no com a hóstia de sêmen
como seria belo uma tempestade de sêmens
por sobre as imagens sagradas
por sobre nós ,condenados a prisão do pecado
como seria gostoso uma grande ejaculação
uma ejaculação universal
todos na mesma hora
espalhados por várias igrejas
corrompendo o sangue que ficou intacto
promovendo a sífilis congênita da submissão
perdoe-me as pobres freirinhas que me educaram
minha educação é intimamente sexual.
minha inspiração é extremamente sexual.
meu paladar,minha natureza,minha origem...
minha oração é um orgasmo múltiplo.
E o melhor não tenho que me ajoelhar no milho antes de dormir.
que deus ABENÇOE A TODOS.
AMÉM.
fLÔ
Tudo o mais é pressa
cansa-me qualquer tipo de venania afoita que burla os pecados do corpo
meu estado é veloz,atroz,é impiedoso,meu estado é guloso
teimo,continuo a teimar
tudo é mais e pressa
a calma desses dedos curtos é disfarce
sou sim irmã da morte
tudo mais é sonho
cansa-me qualquer tipo de chuva fina que corta o ventre atestando a finitude dos tecidos
meu corpo é infinito,embalsamo aqui meus deslizes
o sangue daquele dia mórbido entranhou-se em minha boca
hoje só falo a navalha
falo a navalha
ela me responde quieta
jorrando os coágulos poéticos desta natureza estúpida
desta garganta fétida de medo.
tudo mais é gana
tudo mais é garantido pelo sol.
pobre lua que se desmantela sobre todos os berços
enquanto a noite engole os lençóis
enquanto a noite inventa amantes
para despistar as estrelas atrevidas.cansa-me este verso batido
este verso atirado em calcaças conhecidas
estou exuasta dessa exatidão de poros
desta turma fracassada de escritores sórdidos
estou faminta de sangue.
minha irmã me chama,
tudo o mais é tempo.
tempo que escrevo para me libertar do tempo.
Flô
Quem sou eu
- No Silêncio das Montanhas a Linguagem dos Ventos
- Eu vou,atrevida,pisando nos relógios sento-me nos relógios sou a bailarina da caixa de música que dança em cima dos ponteiros e ilumina mesmo sem querer o outro lado das batidas do tempo... Flô