quarta-feira, 25 de novembro de 2009



Vou ao teu encontro
dançamos e dentro dos meus olhos
teus pés silenciosos ditam o começo
de um beijo único
a vibração dos poros
e os dedos sedentos
desconexos reflexos
vou ao teu encontro
o toque em meu rosto,leve
rio que invade,degusta,provoca
isqueiro lento que toma a coluna
e faz versos pelas coxas
apenas a hesitação do toque
e a loucura penetra
cada pêlo que dormia calmo...
vou ao teu encontro
as línguas se reconhecem sem pensamento
pausa da memória
tempo estático
os fogos de artifício da infância
todos ali presentes,acesos,pulando
dentro dos meus olhos
teus pés silenciosos ditam o começo
o cheiro,a dança sincronizada do beijo
o não saber o que fazer das mãos
a certeza exasperada
da unicidade daquele instante
a renúcia do ontem
a entrega.a entrega
a permissão,a felicidade
os sinos,o gosto,o abraço,a energia
vou ao teu encontro
espera-me
ainda estou aqui!

ADÉLIA COELHO


Não,o rabisco desaparece contra o peito
e o papel quer reinventar
chamo com cílios para perto
afasto com o desejo mais incerto
o rabisco desenrola-se ao longe
impeceptível demora
n]ao sei que tempo é esse
a espera da tinta?
a espera de outros olhos?
teimo,seguro as últimas linhas
de uma poesia que nunca foi minha
evoco-quebro-rasgo
disfarço os meus pés
dançando a esperança
os olhos fogem ao lado
as mãos desfalecem no próprio colo
a boca cansada ,sangra
e o coração que desiste,apaga de vez
o desenho que só ele queria ver.

Adélia COELHO

Dentro dos teus livros
a sincronicidade das lembranças
uma a uma encaixadas sob medida
no verso mais triste
ou no conto mais perverso
a foto com o grande amor
e teu semblante o mais feliz do mundo
o verso que você vai embora sem sentir nada
que você "não" fez para mim
os livros que as outras dedicaram com um carinho emocionado
dentro das tuas lembranças sou o excesso
o suco que escorre fora
o resto que não foi poupado
o presente que nunca é avaliado
dentro das tuas caixas
sou aquela que nunca amasse.

Adélia Coelho





Nas minhas unhas
desenho novo itinerário
e por entre os fios
vermelhos das navalhas
que trago até o ventre
escondo a miséria
a superfície desse sol
inibe as intenções mais descabidas
nas minhas unhas o preto da nova ida
e meus cabelos calmos
aguardam o retorno
todas as feridas limpas e sorridentes
todos os teus olhos,sujos,doentes
meu caos não reconhece mais teus dentes
caminho disperso
invasão nebulosa
que impede o rio...
passo
inconsequente.

Adéia Coelho

terça-feira, 24 de novembro de 2009


Chego perto da boca
chego perto de longe
teus dedos magros atestam
qualquer tipo de destreza
e tua boca sequer almeja
tua vida boceja
chego perto do botão da tua calça
e me olhas insatisfeito
não toques em meu corpo!
minha pele é de outro enredo
o que faço então na tua cama
homem meu de homem algum?
que nem língua,nem íris
teus dedos pálidos confessam
qualquer tipo de pobreza
tua vida passeia e para mim boceja
homem meu de homem algum
o que faço eu então na tua cama?
minha pele quer abrir teu poro
em vão
espero.


Adélia Coelho novembro de 2009

Dentro do meu vaso morto
os restos da Flor de ontem
comida pelo tempo e pelos homens
traçada pelos vermes e paredes
era antiga a cor que habitava o sonho
eu partilhava com ela as canções
de um ninar sombrio
com ela eu coloria cada dia
como se fosse nuvem doce
DENTRO DO MEU VASO MORTO
o homem de preto
riscndo o sexo com um caco
cortando a boca da flor
cmo se fosse chuva
os restos do amor de ontem
nunca foram suficientes
o jornal aberto,minhas pernas fechadas
o jarro latejando de desejo
e a Flor escondida,bebendo o próprio sco
por falta de ar puro
o sonho agora é o despejo da alma
a Flor não gosa mais.

Adélia Coelho novembro 2009

Em meu corpo
a noite inteira
queimam as ervas....


Adélia Coelho

Esqueça os poemas-contas
que te chegavam cobrando
esqueça as fotos mal feitas
implorando naturalidade
esqueça os pedidos de carinho espontaneo
esqueça a sempre falta de um olhar profundo
esqueça a brancura e o calor dos meus seios
querendo tua língua
esqueça o êxtase que provocava
sempre não tomando partido
esqueça os meus gelados gemidos
esqueça meu corpo grande e demarcado
esqueça meu excesso
porque tua falta me engoliu.

Adélia Coelho novembro 2009

Ainda há resquícios dos fantasmas amarelos da 69
ainda me encontro sobre os escombros das ilusões atiradas
sob aquele chão
sua solidão partiu,poque não conseguiu levantar-se
o raciocínio agora é o vento
mando mensagens através das viagens de ônibus
quando penso em nós e te envio carinhos
e você sempre me responde cantando:
"Minha mãezinha querida,querida do coração.."
ainda há resquícios
mas nós ainda estamos vivas dentro do vermelho.

amo vc.

Adélia cOELHO NOVEMBRO DE 2009

Seus gritos crucificaram
a última cruz pendurada em meu pescoço
o ódio entreaberto exalando o excesso
a voz ecoa porque o peito entope
e minhas doenças abraçam os dias
asma alucinógena
que impede a dança
saudade do bolero inexistente
do salto vermelho que cobria meus sonhos
nas ruas que nunca estive
o tempo está findando e Deus avisa,
apagando as luzes
E meu tempo a sós comigo
só quando estiver beirando
o que chamam de morte?
E meu tempo a sós comigo
quando terei coragem de conceber?
Seus gritos crucificam a última cruz pendurada
em meu pescoço...
nasci para saber mais do carnaval
não morrerei sem perdão
hoje a voz é mansa
poque dentro de mim
anda há um luto grandioso
que emudece minhas mãos
puxando meu ar para onde minha adorada está
exalando o execeso desse amor
que aprendi assim,doentio.


DELIA COELHO novembro 2009

O espaço está curto
tudo arde,explode cada tom
implode cada som
escuto outras músicas
é tempo de parar
as portas estão revoltadas
bato-as bato-as
todas elas
culpadas de terem aberto antiga prisão
tudo muito solto agora
e onde procurar as chaves?
a casa intacta e o cão magro,com fome
o espaçoestá curto
tudo arde,
é preciso bater as portas
para escrever azul
nas minhas unhas pintei azul cintilante
mas o qu arde no mundo é o apagão
a ausência de cor
os meus dentes deprimidos
anseiam a carne fugitiva
a carne esquiva
a carne atrofiada
aquele pedaço de carne que ontem brochou
tudo arde em meu curto espaço
eu,curta,
desabo,queimo,passo....

Adélia Coelho novembro 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009


Existo em tuas mãos
animais extintos
espumas exauridas
de tanto ir e vir
no mesmo tipo de mar
meu pensamento é DEUS qu inventa
a sombra é a passarela que chama luz
meu assassinato é espreguiçar-me em teu atos
respirar tua doença
existo em tuas mãos
minhas algas querem mais mergulhos iluminados
o fundo do mar é o lugar do amor mais adequado
lá no fundo estamos sempre acesos
dentro do espelho a água viva amorna
minhas ideologias
estou acelerada
quero respirar
e permancecer dentro ao mesmo tempo
quero que o fluido me engula contente
me Aninhe em seu dente
no canto da boca onde o sonho é mais feliz
um dia me disseram:
"de longe os bois são pedacinhos de algodão"
então permaneci quieta
joguei os óculos fora
e pesquei nuvens
até pastar.

ADÉLIA COELHO

cITAÇÃO DE HELDER HERICK

Faltou luz
e você não me chama para perto
teu abraço-túmulo incerto
enterro em tuas pupilas agora o ócio
tuas escolhas nunca serão óbvias
mas sinto que não sou eu que
posso iluminar-te
todo o teu bairro desmaia numa
solidão de sombra universal
e você não me chama para perto
nosso perto nunca existiu
a luz acendeu
e nosso abraço terminou de morrer
voltasse para o computador
e eu para o verso.

Adélia Coelho novembro de 2009

Sou tua certeza enjaulada
dentro da praia
com frio,a areia
meus irmãos graõs
meus graõs irmãos
sou tua lerdeza estampada
por dentro dos canhões de luz que iluminam
as ondas,sou a faísca que foge
sou a irmã amputada
ingênua,órfã,jogada no lixo
sou tua consciência amanteigada
tua complascência desavergonhada
sou aquela música que passa
atravessa os tímpanos suados
levanta os pelinhos da janela encabulada
sou aquela que ninguém sabe
que ninguém vê
sou a pergunta que cala
danço com os orgasmos..
a única coisa que sei é o prazer que me dou com as mãos
em palavras e líquidos poéticos.
sou a menina que grita de prazer!

Adelia Coelho novembro de 2009

Merda de biscoito ilegal
atravesse o doce imaginário
desta ternura que te mente,que te mete
você já tomou no cú?
O cú das plantas é a boca
que recebe todo o beijo mórbido
de qualquer natureza indiferente
quero experimentar mais leite no seio
quero mais arranhões no ventre deserto
quero suspirar lentamente meus farelos
sobre tuas sementes desnaturadas
quero ser filha da alma
quero comer tua primeira migalha
mas não me chame quando o biscoito acabar.

Adelia Coelho novembro de 2009

Teu amor é escafandro
respiração que fere
transpiração que nunca me sugere
o beijo morreu na estante cheia de livros
o beijo morreu pelos mosaicos psicodélicos da cozinha
o beijo morreu por entre os lírios tristes do jardim que sou
teu amor me pede trégua-tempo-ar
teu amor,a cada segundo faz-me mais sangrar
o sexo morreu no primeiro fio
que a cama teceu
o sexo morreu
quando o toque virou horror
preciso morrer para ti.

Adélia Coelho-novembro de 2009

Preciso descer pelo pior abismo
dentro do talo da planta
queimo,líquido em líquido
a parte de mim que chamava-se juízo
dentro do coração amargo
os doces de ontem
as sobras do bolo de aniversários assassinados
preciso subir pelo melhor céu
dentro do reboco do caos
choro,sólido em sólido
a parte de mim que edifica-se sonho
estou pedrificando os orientes
erguendo antigos punhos e dentes
acomodo-me
meu modo de ver é turvo
é insuficiente
preciso dizer pela maior palavra que há
falta tudo.
não consigo espirrar mar
espero do outro lado da ponte
que o peixe,reconheça-me
além da escama
que o sol alivie,mesmo de longe
minha dor-amar.

Adélia Coelho novembro de 209

Meu ciúme é do tempo
teu olhar nunca me fotografou
tua curva nunca conheceu as pedras dos meus sapatos coloridos
meu ciúme é mera desculpa
não,não há sentimento!
há forros ocos,há folhagens densas,há sementes antigas
de mágicos girassóis
o meu olhar quer nascer na boca do tempo
quer ver o ciúme do sol
quer sentir o carinho do vento
não,não há sentimento!
minha promiscuidade é sutil
minha sacanagem é sagrada e despachada
quero o colo ávido
a pele flácida
o desejo melado
o pus vermelho
o ânus quente
quero o DEUS intransigente
o anjo trangressor,imcompetente
quero a corda firme
dos versos soltos
e todos os precipícios árduos
por meus seios mortos
quero e nunca poderei ter.
o meu ciúme é do tempo
não sei amar
quero.

Adélia Coelho novembro de 2009

O teu lugar suspenso
dentro da tua tela
as outras erguendo-se
abertas em mesas imaginárias
arreganhadas vantagens
sem,toques,sem dedos,sem poesia
O teu andor submerso
dentro da letra das outras
estupendas
estupradas
movendo-se
estranhando tua magreza de verbos
tua anorexia velada
desgarradas images
sem lances,sem luzes,sem sintonia
o teu canto é o beco
a bituca é o bico do seio
a fumaça é o beijo de outra
a tua brancura é disfarce
tua negrice bobagem
o eu lugar extenso
limita-se na língua
ausente
no pênis
ausente
na íris
ausente
teu santo é vivo e arrogante
teu santo ainda é virgem de Deus
tua mão não colhe sol
teu sexo não encaixa por sobre as fases da lua
torturas
procissão colorida
de velas mentirosas
teu abraço morto
teu toque atado e sequestrado
deixasse por outros braços perdida
a magia que procurei nos teus
deixasse em outras linhas
as palavras que esperei em nosso papel
erga agora nosso desfalecimento
a paisagem translúcida
as traições estampadas
a aragem completa
a garagem fechada
fosse o rei de coisa nenhuma
que por momentos
segurou meu eixo ensanguentado
fosse o pássaro sem identidade
que escolhe o ninho
porque o céu não lhe permite ainda voar.
não sou este ninho
nem a ponte
não sou apenas a que pede
sou a que implora:
quero um amante!


Adélia Coelho-novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009



Urros Masculinos lança Tudo aqui fora escrito, tudo fora escrito ali, coletânea de poetas e contistas que não revolucionaram a história

As antologias normalmente retomam aquelas obras que, de antemão, legitimamos: constituem Histórias de H maiúsculo. São coleções de um tempo cartografado, de uma geografia imaginária, de um autor em busca da canonização em papel. O grupo literário Urros Masculinos se mete a propor uma outra ética e catalogar o presente. Na antologia Tudo aqui fora escrito, tudo fora escrito ali, o coletivo recorta a obra de escritores mais ou menos novatos: vieram à tona das publicações nos últimos dez anos. Fechando a década em que os marcadores zeraram, a compilação repercute uma nova lógica de espaço-tempo, em que a vivência da nostalgia e as previsões do futuro se confundem. “Normalmente a Academia diz que você precisa dar um tempo antes de identificar o que de bom ou de ruim foi feito. A gente fala muito do que se produziu na Geração 65, nos anos 80. Mas e o que foi publicado na última década?”, questiona Wellington de Melo, um dos organizadores.
Wellington é também um dos integrantes da compilação, que agrupa poesias e contos de 10 escritores. Junto a ele estão os poetas Adélia Coelho, Amanda Moraes, Artur Rogério, Helder Herik, além dos ficcionistas Artur Lins, Bruno Piffardini, Cristhiano Aguiar, Fernando Farias e Jean Santos. A antologia faz reverberar um mosaico deste conjunto de autores (de diversas idades), em busca de uma marca geracional para o nosso presente literário. “Alguns dos escritores dificilmente teriam apoio público para publicar de outra forma. Conseguimos aprovar o projeto no Conselho Municipal de Cultura e o livro calhou de ficar pronto às vésperas da Free Porto, onde vamos lançá-lo”, diz Wellington. O evento ocorre em paralelo à Fliporto, entre os dias 6 e 8.
Nem todos os participantes são pernambucanos. Wellington lembra o caso do baiano Cristhiano Aguiar e do paulista Bruno Piffardini. “Eles não nasceram aqui, mas moram em Pernambuco e seus trabalhos dialogam com o que acontece por aqui”. Cristhiano, autor do livro de contos Ao lado do muro, além de ser um dos editores da revista Crispim, divide as páginas com escritores nunca antes publicados, descobertos na sorte dos blogs rede afora. Amanda Moraes, por exemplo, tem apenas 20 anos – e uma poesia com a densidade de 50 anos de adolescência. Seu verso cambaleia entre a dominação e a emancipação: diz que “paradoxalmente, vou-me construindo, como se eu carregasse em mim peso e leveza, um pouco de patrão e de negrinho”. Helder Erick, natural de Garanhuns, também debutou na internet. “Conheci Erick através do seu blog, mas só vamos nos conhecer pessoalmente durante a Free Porto”, conta Wellington.
A despeito dos enfeites do bom gosto, a publicação sai do forno em festa no sábado (7), às 22h, no Francis Drinks (Av. Alfredo Lisboa, 33, Bairro do Recife). Uma mesa de discussão, antes da bombação com DJs, deve reunir Delmo Montenegro e Johnny Martins, autores dos prefácios do livro, que jogam conversa fora sob a mediação da drag queen Gera Cyber. Tudo nos trinques de um grupo que ensaia um reordenamento da nossa lógica de recepção. “O Urros busca experimentações na maneira de fazer a literatura circular. A gente sempre pensa que a literatura tem que ser feita em mesas, em livrarias, em um lugar esterilizado. Quando a gente reduz a literatura a estes espaços, termina tolhendo sua liberdade”, diz Wellington. Entre as investidas, está o literal lançamento de livros que acontece na Free Porto. “Escritores jogando livros na rua pode ser uma imagem muito forte, mas queremos subverter a ideia de coquetel”.
A estratégia tem contrapartida literária no emblemático Wellington de Melo, poema que o próprio assina (ler ao lado), com ares de prefácio. “O título é uma auto-ironia. Representa um pouco a angústia de uma geração que percebe que escritor famoso que vai viver de literatura no Brasil é quase uma ilusão. O poema é a negação das ilusões da fama”, diz Wellington. Afirma, no entanto, que o Urros não é um coletivo meramente anárquico. “A gente não tem uma postura de se opor ao sistema, de vender livro de porta em porta. Temos conhecimento de editoração, diagramação. Sabemos que podemos procurar editais de cultura, buscar patrocinadores. Não queremos mudar o mundo, mas se a gente conseguir que uma pessoa dê uma olhada para a esquerda ou para a direita e veja algo, a gente chama atenção para a literatura”.

Quem sou eu

Minha foto
Eu vou,atrevida,pisando nos relógios sento-me nos relógios sou a bailarina da caixa de música que dança em cima dos ponteiros e ilumina mesmo sem querer o outro lado das batidas do tempo... Flô