As imagens ficam obscuras
E o sorriso se esconde na falta de cor.
Tudo cinza como a dor.
Quem disse que a dor tem que ser colorida?
Saio,e as ruas me perseguem como cães famintos
A procura de um osso,mastigado,perdido...
Minha face tua face
Como num espelho perplexo,tento resgatar teus pedaços em mim
Tento partilhar também dos cacos,do cinza imenso que corta.
Piso numa festa comedida de detalhes sórdidos
encravo as unhas inexistentes nos balões dissimulados
este campo não tem flores,estas casas são desertas
existem cavernas doentias
existem cavernas doentias
teu colo não está nos outros,teu colo galopa entre os deuses
e como uma divindade emanas a substância que me gerou
todos os fluidos cantam minha dor...
e meus gritos exalam a teu corpo fétido,
vinha de ti o ventre,o vento,o dente,o medo.
como num espelho perplexo,
volto a conversar comigo,através da imagem.
E sei bem que esta mesma imagem é apenas projeção.
Você ainda a tem ,você não está na gaveta de cimento
você está nos meus espelhos,
nas minhas cantigas,
nos beijos que dou no mar...
existem depósitos de amor
existem depósitos de amor
guardei bem a poção mágica,
é minha ninguém me rouba,ou apaga...
toda tua intensidade hoje faz sentido.
Tudo demais , porque logo vou partir
E sei pra onde vou...sei bem pra onde vou.
Deixo-te toda essa herança de arte e amor,
Sigo,agora sem dor,agora pintando mais cores
Sem hesitações,sem inseguranças,agora vou,preciso ir...
Não há despedidas,estarei na tua face
Estarei no teu papel,estarei em tua palavra.
Meu sangue apenas se libertou.
Amo-te através do tempo,espaço e dimensão.
És meu maior tesouro.
Bambam,(Adélia Coelho)
Para minha mãe com amor.
25 de junho de 2009-06-2009
Dois meses de seu desencarne.