sábado, 8 de agosto de 2009





Ela vestia-se de flores

Ela comia flores

Ela sentia flores

Flores falavam de amores

Amores desciam pelas pernas

Sonolentos

Sonolentos

Ela cuspia flores

Ela queimava flores

Ela fundava flores

Amores escorriam pelos ombros

Ela queria as flores

Ela via tuas flores

Ela as via...

Visitava flores

Procurava flores

Enterrava flores

Certo dia ela, a flor

Descobriu que todo esforço

Era em saber inventar uma nova cor

Uma nova espécie

Como se cria uma rara flor?

Ela dormiu.

Ela sonhou

Desenhou no vento a margem

Soletrou no mar a dor...

Não se cria flor

Apenas a descobrimos

Apenas descobrimos o amor.

Tão simples

Tão inesperado

E até singela a frase

O amor é mesmo uma flor.


Adélia coelho

Junho de 2009






A casa continua fria

Janelões que escondem sombras de culpas antigas

Como posso me aproximar?

Me mostre...

Como posso continuar fazendo o bem apesar do mal?

Me diga...

A casa continua estranha

Plantações secas por entre corredores

Vazios deixados no ar

Superficialidades escancaradas

Tudo de bom trancado a sete chaves

Qual o medo?

Onde ficam guardadas as armaduras de guerra?

E por quê mais guerra?

Os laços de simpatia e sangue são testados

A toda hora, todo momento

E nos espaços ocos, o que pode completar?

O que pode compensar um não amor?

Um mau amor, um pouco amor?

Conheci amor de muito,

Não sei como lidar com

Pedaços menores...

Saio pela janela

Pois as portas do antigo terraço estão fechadas

Não se importe,coisa de política

Sabe como é.


Adélia coelho

Junho de 2009







Livre

Livre

como passarinho bêbado

solto solto

como sorriso de infância

tempos que não sei sorrir em minha criança?

Anjos perversos? sopros bandidos?

Qual é o instante de ser feliz?

Atrás de mim as xícaras limpas

De um café que nunca tomei...

O frio esquenta os pés

Congelando o coração

Na quintura dos meus dedos novamente ávidos

Fervilhando as possibilidades

As que nem ousei saber... as que boas surpresas me reservam

A solidão é uma bênção?

Tragam as cantigas, vou pescar

Anjos caem direto no rio, pode ser que os peixes concedam

Uma primeira dança

Minha língua procura tua balsa

Meu coração quer festa e verso

Quer tremor e alegria

Quer embalo,boa nostalgia

Onde ficaram perdidos teus versos

Aqueles que tanto esperei de você?

Sigo ,adiante tem uma grande caixa...

Quem sabe de nosso destino?

Um dia posso começar a tomar café...

Adélia coelho

Junho de 2009



Menininha, menininha

fadinha de condão

Menininha careteira

Espécie de fofura brejeira

Estrela bem pra lá do lado de lá do sertão

Menininha Teresa

Mariazinha de ternura e sabedoria

A força de mãos pequenas

O abraço de toneladas de imensidão

Menininha branca, alva, límpida

Travessura de clarão

Dançando, catucando, enfeitando

Mordendo Meu coração

Menininha Têco,

Você é filha,amiga de outra reencarnação

Certeza absoluta,trago comigo

Teu musical cordão.


Amo-te

Beijos da prima maluca Dedeia Coelho

Junho de 2009






A tristeza tem rosto de dama fidalga

Percorre cada linha do tempo

Como irmã pedra não-lapidada

Instala-se como perturbação natural

Faz moradia e oração

Tristeza é baile sem máscaras

É carnaval sem desfile

É criança sem chuva nos pés

Quando ela veio me conhecer

Tentei resistir,tentei me mostrar superior

Mas a quem?a quê?

Deixo escorrer,acariciando as têmporas

Cada lágrima que o universo me concede

A água vem de deus

A água vem de deus

E nosso céu não sabe bem quando diz

Esse é meu tempo de sentir tristeza

Fechem as portas...

Quero ficar só

Não quero comer

Não quero falar com ninguém]

E se alguém tiver carinho, entre

Mas que alguém tome iniciativa

A minha está temporariamente desligada.

Não quero passear

Não quero namorar

Não quero gargalhar

Posso chorar, me dão licença??

Não vou chorar eternamente.

Amanhã é tempo de sorrir novamente.

até amanhã!!!!!!!

Adélia Coelho

Junho de 2009







Um cuidado,um zelo,uma proteção

Meus pés sobre este caminho

Agora sentem dor...

Quem mais cuidaria tão bem de cada passo dado

Eu poderia então cortar o cordão?

Mas não desejo queimá-lo...

Quem elogia agora os pés imóveis sob a chuva da alma?

meus versos soltos,primárias sensações

voltei,finquei os pés no papel

mesmo tateando o solo,mesmo pisando nos falsos...

meus pés sentem falta do teu carinho...

ninguém mais massageará meu ego como você

ninguém mais ouvirá meus pés dançando

e a música que meus versos bailam...

sinto-me fraca e forte

meus pés te querem

e a dor que todo meu ser está sentindo

ninguém mais sabe a dimensão.

Minha Flor,meu amor,minha menina,

Vou-me também tentar dançar novamente

Tentar colher tuas algas

A saudade é um caminho fixo,constante,crescente

Amo-te.


Délinha

Junho de 2009







Tudo parece bem apagado

E falta vontade de dançar sem você

Como posso voltar pra casa?

Como posso voltar pra nossa casa?

O nosso tempo fica só na lembrança

Porque o pó finaliza tudo?

E quem disse que está tudo bem?

Minha saudade é busca constante

E não te vejo mais nos sonhos

O que fazer agora que as mãos andam perdidas?

Voltei a escrever ...e sei que estás sobre minhas mãos

Sei que tocas meu coração,

quando me sinto extremamente perturbada...

Algo sai no papel,como uma desagregação,

um desregramento interno

Tudo se emaranha para se organizar...

Será que agora sentirei aquela felicidade que toda mulher espera?

Algum dia você realmente a sentiu?

A cada dia compreendo mais

o por quê da fuga desta realidade maldita

O que é a vida sem poesia?

Alguém pode responder...

Tudo escuro,e tenho medo de voltar pra casa

E quero voltar pra casa mas que tudo

Para acender as luzes,limpar os móveis e comprar flores frescas

Deixar entrar o sol,o céu,a vida...

Deixar findar a dor,o trauma a luta impedida...

Há dois meses você me abraçou sem forças

Quis te salvar...quis mais que tudo nesta vida te salvar.

Talvez um dia eu consiga,não desisto,

Nossas mãos estarão sempre dadas ao amor.

Dormiremos sempre juntas

Por mais que não consigamos ver...

Estaremos dançando,festejando,brincando

Porque somos muito ligadas,

E sempre soube que nem a morte destruiria isso.

A morte só realça sentimentos eternos

A morte só ressalta nossos maiores desejos,

Meu sonho é lhe ver libertada ,livre de sofrimento

Meu sonho é lhe ver se cuidando...

Sentirei isso

Sentirei isso

Porque a força maior sabe bem o momento de cada coisa.

Estou aqui mainha,sempre,sempre,nunca se sinta só,

Eu nunca vou lhe abandonar.



Da sua nanan

Adélia Coelho

25 de junho de 2009





As imagens ficam obscuras

E o sorriso se esconde na falta de cor.

Tudo cinza como a dor.

Quem disse que a dor tem que ser colorida?

Saio,e as ruas me perseguem como cães famintos

A procura de um osso,mastigado,perdido...

Minha face tua face

Como num espelho perplexo,tento resgatar teus pedaços em mim

Tento partilhar também dos cacos,do cinza imenso que corta.

Piso numa festa comedida de detalhes sórdidos

encravo as unhas inexistentes nos balões dissimulados

este campo não tem flores,estas casas são desertas

existem cavernas doentias

existem cavernas doentias

teu colo não está nos outros,teu colo galopa entre os deuses

e como uma divindade emanas a substância que me gerou

todos os fluidos cantam minha dor...

e meus gritos exalam a teu corpo fétido,

vinha de ti o ventre,o vento,o dente,o medo.

como num espelho perplexo,

volto a conversar comigo,através da imagem.

E sei bem que esta mesma imagem é apenas projeção.

Você ainda a tem ,você não está na gaveta de cimento

você está nos meus espelhos,

nas minhas cantigas,

nos beijos que dou no mar...

existem depósitos de amor

existem depósitos de amor

guardei bem a poção mágica,

é minha ninguém me rouba,ou apaga...

toda tua intensidade hoje faz sentido.

Tudo demais , porque logo vou partir

E sei pra onde vou...sei bem pra onde vou.

Deixo-te toda essa herança de arte e amor,

Sigo,agora sem dor,agora pintando mais cores

Sem hesitações,sem inseguranças,agora vou,preciso ir...

Não há despedidas,estarei na tua face

Estarei no teu papel,estarei em tua palavra.

Meu sangue apenas se libertou.

Amo-te através do tempo,espaço e dimensão.

És meu maior tesouro.

Bambam,(Adélia Coelho)

Para minha mãe com amor.

25 de junho de 2009-06-2009

Dois meses de seu desencarne.




As estrelas eram como orifícios dos deuses

Pequenos granulados de ilusão

Planetas acometidos,partículas refinadas

Todo o universo buscava aquela voz

por fora do céu o cordão amarelo pendurado

clamando por misericórdia

era a hora de puxá-lo?

A lua-sol lá por dentro daquela passagem ansiava poesia

Guiasse com seu brilho novas constelações

Novos blocos de sonhos concretos...

Novas aberturas ,mesmo diante do caos.

A passagem para o céu era uma lente sutil

um círculo de esperança

iluminado tamborim de amor

dentro : todas as possibilidades...

sedentas ,saudosas,reluzentes

tua morte é uma porta,assim

doce,assim serena,assim inteira.

este orifício é parte da chegada

nada derrota tua estadia na terra

nada fraqueja diante da tua resignação

a estrela você faz...

todo dia um pedaço de tecido mais firme

toda manhã a lua acaricia o sol

porque sabe que só se encontram quando não se vêem

tocasse o sino,poucos perceberam,mas a natureza fez sua parte

estarei sempre aqui,como parte desta natureza,

como parte essencial deste teu céu ,o novo...o antigo...o de hoje.

Amo-te com a força das passagens divinas.

Amo-te porque nasci do teu pedido

Nos encontraremos quando minha viagem começar.

Beijos sua filha ,mãe,irmã,amiga,prima,colega...

de sua “pequena” família...

Bambam , nanan , Délhinha , Délia,do seu milagre.

Adélia Coelho, 25 de junho de 2009-06-2009

2 meses de seu desencarne,de sua passagem.

Saudades eternas...


Quem sou eu

Minha foto
Eu vou,atrevida,pisando nos relógios sento-me nos relógios sou a bailarina da caixa de música que dança em cima dos ponteiros e ilumina mesmo sem querer o outro lado das batidas do tempo... Flô