segunda-feira, 9 de março de 2009



Percebo os recados,mas não posso mais sozinha.
Onde estão meus amigos pássaros que passeiam nos muros alheios?
quando abri a janela da casa amaldiçoada hoje, vi um pássaro esverdeado
andando de um lado para o outro em cima do muro.
Espelho imediato,ele olhava de lado,ele procurava,mas como se estivesse ferido
forjava o próprio desequilíbrio,alguém ali passaria para levá-lo para cima...
continuou andando...ninguém,ninguém olha mais para um pobre passarinho desorientado.
Eu olhei,pelas frestas da janela,me atordoei com sua dúvida com sua hesitação.
Meu irmão,ali me mostrando o quanto somos gêmeos.
E ele também parecia não poder mais sozinho,
esta corda bamba do circo amarelo não fazia parte do mundo do pequeno voador.
Mas ele se viu nesta incruzilhada de novas plantas,pulou de um lado para o outro
voltou pertubado ao meu muro.Falou sozinho.E quando me olhou:Assustei-me.
Parecia saber que teria de vir me mostrar.Será que mostrou?
achei que ele fosse cair e morrer ao tentar voar,ele deu alguns tropeços no começo
como se fosse mesmo seu primeiro vôo; depois de muito tempo internado num hospital de
cantadores solitários...
Quando menos esperei,ou melhor estava ansiosa a espera,ele levantou vôo
e não mais o vi....
O vejo tanto agora em mim,o sinto tanto em cima do mesmo muro,
bambeando os passos,querendo fazer das plantas pontes a outro céu...
Primeiro ele andou bem em cima do muro que lhe deram como salvação.
Para depois seguir sozinho e firme seu sonho mais alto.
Meu irmão veio me ver,primeiro eu pedi em desenho que ele trouxesse seu canto
ele veio e trouxe minha fotografia de liberdade.
Percebo os recados.Posso sozinha?
Ele pôde.


Flô

Quando dirijo pelo sono induzido
meu sonho é acordado e ao vivo
cores luzes ações....
Saio daqui desta realidade por vezes também induzida
e levito até outro céu,mais estrelado
mais observado por olhos abertos...
quando tento chover pelos dias reais
encontro poucos olhos também ávidos e prontos para troca.
quando dirijo sozinha pelas madrugadas e pelos dias adentro
perco um monte de coisas aqui fora,as sensações concretas
as conquistas primordiais...
mas quando sonho,digo a mim mesmo o quanto posso acordar.
Tenho um pesadelo numa casa imóvel,mas logo lembro-me
sou minha casa ambulante,sou dona deste meu corpo que quer sair
da caminhada no sonho da cama doentia
e partir para o passeio real das iniciativas.
Meu carro é meu presente,meus pés são estrelas corajosas
meus olhos são fomes que brilham.

Flô





Meu menino branco,eu não sei amar
esse fogo que por ora nos afaga o rosto
é apenas verso brincando de voar
desculpe o peito coroado de ladrões
desculpe o jeito em lidar com surperstições
Meu menino branco,eu não sei amar
tento construir passarinhos
tento consertar aviões e sopro pra longe o vento
Minha leveza te disse outro dia que eu voltaria
não sei bem quando querido,
esse fogo que por ora nos afaga o rosto
quer tanto por tudo voltar
desculpe o traço desajeitado das orações
desculpe o ventre bandido ávido por canções
meu menino branco,eu não sei amar
invento prosas e poesias coloridas
reinvento lares e moradias um pouco mais gostosas
minha leveza te disse outro dia que eu voltaria
me espera?
espera no banquinho da praça que nunca fomos
espera na cadeira do cinema com cheiro de chiclete de menta
que nunca fomos
espera no pote de doce que tantas vezes comemos juntos
porque sabemos que gosto tem
ser um na vida de outro
acreditando em si.
Meu menino branco,não sei amar
mas tudo me diz que te amo.
e sem saber,sigo ao teu peito
para sonhar,sonhar sonhar....


Flô



Não está vendo rapaz?meu tempo é meu sexo
pendurado,por tempo, tica tac voando como passarinho desnorteado
em baixo o mundo esperando que eu caia...despenque!me desconjunte!
relógio antigo ;parece bomba dá medo,porque do nada ele bate uma musiquinha também mórbida e antiga indicando que é hora.
De quê, nunca sabemos bem ao certo.Nem sei por que tô escrevendo aqui agora.
Estava meio engasgada,nem comi muito hoje,mas achei melhor me abraçar com o relógio e tentar senti um pouco o que realmente bate,se é o tempo ou um troço meio inútil chamado coração.
Todas as linhas mostram determinados caminhos,...isso é fato,mas e as batidas do vento o que mostram?que é tarde?que foi cedo demais?que é a hora certa?quem falou que a certeza viria grátis no pacote do relógio antigo?Um pedaço de madeira bem talhado forrado com cordas que tocam de hora em hora.Isso te diz realmente algo?Não está vendo rapaz?
Meu tempo é meu sexo.Olho tediosa para baixo,para a cordinha que fica pendurda me hipnotizando.O que o tempo faz mesmo?paralisa?acelera?disnorteia?te enche de teias?
Hoje,aos 26 anos,revejo meu tempo,vejo o que talvez ainda tenha pela frente se eu sobreviver...
E isso me diz tão pouco.Tão pouco do que o meu sexo traduz.
Não está vendo rapaz?
Nem eu.


Flô



Meu carnaval nem começou.
quartas são quintas sextas sábados e domingos
numa solidão de umbigo que exaspera meu dia de mulher
os resquícios,as fantasias,os porões e portões estão distantes
abafo meu amor como porta estandarte do caos.
Meu carnaval nem começou.
O rítmo desacelera todas as respirações
pensamentos fugidios me perseguem
silencio.Como se o bloco tivesse passado sem me acenar.
Fotografo cada delicado melindre da palavra não dita
deito,sumo,mergulho numa festa maldita de sonhos inacabados.
Desejo minha morte do outro lado da rua,desejo,mas vejo vida.
Lembro que a cor da fantasia principal era azul,era de azul que vivia
a paz que me cercava no ar era vento cortinado de azul
a grama que me falava no sonho acordada era verde de raiz viva
resgato as passagens por uma natureza não mórbida,revejo meu cais
ambulantes semblantes de um carnaval melhor.
Meu carnaval nem começou,o que quero inventar é meu inventário de acordeões saltitantes
meu baú de asas que se dissolvem com beijos nas calçadas
meu batuque é sorriso misturado,atado,lambido!
Esta minha cama maldita é um verso morto
esperando a cremação dos passos mal dados
ampliando a crença em vôos mais firmemente vistos!
Meu carnaval é acordar todo dia e precisar cantar para acreditar.


Flô

Quem sou eu

Minha foto
Eu vou,atrevida,pisando nos relógios sento-me nos relógios sou a bailarina da caixa de música que dança em cima dos ponteiros e ilumina mesmo sem querer o outro lado das batidas do tempo... Flô