sexta-feira, 3 de abril de 2009




Nada que eu ouça tecerá
cada grão que hoje me comprime
Todas as tuas borboletas morreram antes de nascer
E teu sexo finda na prece.Amém?
Não sei mesmo como vim parar aqui
Por um grão também?
Tão nítida como lágrima,tão rápida como o tempo da luz
Um ato interminável de covardia?
Identidade.Identidade
mostre sua carteira!Vaidade!
Só tenho um grão,o grão que resta e me esmaga
o grão que testa e me esnoba
Alimento e nojo.Piada e poesia.Escada e precipício.
Nada que eu ouça limpará cada grão expurgado
que hoje me atesta..
Meus ouvidos são plantas secas aguadas por desertos
Silêncio?
tragam-me a chuva..
Minhas fomes são grãos de girassóis
e meus olhos também surdos
são sementes de uma lua distante
Espero quieta.A lua virá me buscar.
A lua- grão -amarga acalentará meus zumbidos
A lua pátria me dará enfim de mamar
E nada que eu diga, matará os novos grãos aqui agora ,espalhados
neste sopro delicado
e isento de intenção...
Minúscula.Minúscula.Minúscula.

Flô




Meu menino brinca com os cabelos negros
enrolados de suor...
e ainda nem sou mãe,
minha filha enterra o próprio peito
no sono dos malditos,debaixo dos tijolos da casa amarela.
Ela mata beija-flores
A gaita toca sozinha o que venho pedindo para viver há tempos
O menino não escreve em meus seios
com seus olhos duros.Ele deixa passar.
Meus bicos somem...
meus peitos desaparecem..
E todos os corações do mundo ouvem vozes desatinadas
Tudo ficou preso no latido não tido.
No quintal das ilusões hereditárias
Tudo ali, na terra infértil
Meu menino acena
E minha filha morre
sigo,corrente,azêdo e húmus.


Flô



Aqui mesmo em teu mundo julgo
comparecer sargenta de tuas sedes e vontades
onde vou buscar as palavras que moram em ti?
percorri todos os versos que ousaram tocar-te
Sou o que agora chora e finda sua tinta na melancolia
mais solta e improvável
Meus beijos são peixes tontos,minha boca pesca a saliva do mar
em teus poucos pêlos
quero ver a nascente...
por que por teu olhos não vejo o mar?
O que te impede de me abraçar com teus cílios e me chamar de tua?
Essa minha embriaguês natural é mesmo trôpega
não há mais espaço na boca
e meus pus jorra pelos ouvidos de cera
que jamais escutaram tua poesia.

Flô

Lábio serpente




Não há mais tempo
para minha boca chegar até a tua
e não possuo mais moradia
Meu lábio serpente,genioso
vive mesmo de pura nostalgia
não há mais eixo para o que sacode as feridas
Sou do mundo e de deus
Fui jogada na loucura do teu não olhar
qualquer insanidade recatada dá-me náuseas
Fora de teus olhos sempre arredios
chamo com língua teu arrecifes de tédio
cada dobra do teu corpo tem cheiro de mar
Não há mais tempo para minha fome buscar a tua
porque meus ossos estão pintados de vermelho.

Flô

Ali do outro lado deste amarelo
há sótãos qua guardam saudades
Elas ficam talvez na eternidade que sempre reinventamos.
Elas cortam,quando resolvemos abrir as portas
de cada brilho enterrado nos olhos dos tijolos
Do outro lado deste amarelo imenso
que habita corroendo,há escadas brancas povoadas de beija-flores mudos
quando pisamos no primeiro degrau(girassol)o canto é nosso!
Mas beija-flor canta?Achei que só beijasse
E como posso pisar em seu alimento?Enfim...
Quando sobe-se esta escada se evidencia a presença divina do profundo.
E não é o tempo que dita a subida
é o canto-beijo que dignifica cada estadia
e cada degrau é um voo.


Flô

Cartas a uma atriz experiente2




Perderei a única coisa boa
De certo todo o meu resto é deserto
que gosta de sentir sede
perderei o únido laço saudável
Da terra finda-se também cada estação
e suas chuvas que deixam pequeninos órfãos
quando as encostas engolem toda e qualquer história.
Ele jogava bola por ali.Agora?
Em cada pedaço de cimento e carne que mistura-se
salva-se mais um adubo,que nem serve...
para o tipo de dor que inventa o próprio desmoronamento.

Flô

Carta a uma atriz experiente






Todas as tuas doenças são dotadas de uma maldade particular
tuas construções e pesadelos simbióticos e destrutivos...
Para você é preciso não andar,tampouco acreditar para continuar viva.
Porque é só isso que te prende as pessoas.
Os laços saudáveis,dissolveram-se todos.
Compreendo-te mas jamais aceitarei,concordarei com esta forma de lidar consigo mesmo e com o mundo.Nasci para vivenciar a saúde e todas as dádivas que esta vida ainda pode oferecer...
Não nasci para herdar uma auto-mutilação habitual...
Isso é teatro evoluído demais para uma jovem atriz.

Flô

Estrela salva?





Toda bagagem que te entreguei
não,nada conseguiu
Guardo cada passo que dei em teu falso
Sei que todas as malas tem um fim.
E o que habita em mim é palavra
que segue desatinada na morada corpo
Na minha balsa sagrada que faz-me viajar sempre.
Hoje aprendi que não se salva nenhuma estrela
que desiste de beijar a lua.
O céu se entristece e pede licença aos vestidos bucólicos
desaguando no arco-íris onde cada superfície se colore de identidade
e sabe o por quê de cada cor que segue junta...
quando não se salva a estrela
ainda existe o brilho,
o brilho na realidade é do céu.
É dele.


fLÔ




Abri a porta do precipício
achei que podia conhecer a loucura e tentar ajudá-la
ajudá-la?A loucura não finge,nem ultrapassa
A loucura é fina e transparente,é fio indefinido
que se transporta entre os dedos
Não há como enganar a lágrima de um louco.
Ela é poesia.
O fingimento é calculado racionalmente quando adotado na irrealidade.
Ele é estudado.Fingir dentro do ser real é assumir um conhecimento fugidio sobre as técnicas teatrais.é limitar-se a ser farsa fora do palco,para alcançar certo público.
E este mesmo público nunca aplaude.
O espetáculo é casativo e de uma inquietude doentia,
não o tipo de provocação que sucumbe o expectador
eleva-o enquanto indivíduo.
Quando o ciclo evidencia-se fica mais fácil constatar
uma má construção deste personagem
dá voltas e voltas e não ultrapassa o próprio precipício como platéia.
Não há oscilação,se mantem a mesma linha...
Os ruídos da comunicação foram enraizados e determinados...
e a verdade da farsa se entristece.
Trabalho mal feito.


Flô

Bom Baile




Então,deixo-te com teu baile suspenso nas dores
Meu telhado é cinza
e todo o resto chama-o sem cor
Então em cima do teu chôro dramatizado
existem todos os disfarces dos fracos
tua água funda e finda por onde nunca começaste
Foste sombra fria,cambaleando sobre qualquer tipo de céu,
que não este que nos cobre de realidade
Então deixo-te com teu teatro convicto
amaldiçoando todos os tons de amarelo
deixo-te dançar sobre os berros dos outros tantos personagens
que te habitam sem passaporte
segue desesperança congênita,segue agora despercebida
preciso ir ver o pôr vir...
preciso ir...
ainda é preciso sorrir.
Bom baile!

Flô

Sobre Lunáticos





Olhar para frente,para cima e ter uma tela de cinema mudo
uma dança leve e intensa que esconde esconde o sorriso alvo.
Ela ri irônica?ela ri envergonhada?
Sei que ela ri apenas,como se tudo o quanto fosse chôro aqui de baixo
fosse visto com otimismo pela fresta de eterna luz.
Ela ri para nos fazer crer que tudo é leve como o movimentar-se das nuvens
E tudo pode ser tão reluzente e tão fantástico como o deitar das estrelas
Basta permitir-se ser céu
E céu nunca está só.

Flô

Sobre Lunáticos





A nuvem perplexa
E aquele sorriso inundando a escuridão
faltava um elogio.
Todas as noites são loucas e não sabem bem como agir
Nuvens mudam de idéia a todo instante
e formam novos desenhos como se reconstruíssem o céu.
Minha confidente,meu foco de luz ,ouvinte permanente,
bela,imponente como se sua nobreza
jamais se abalasse,mesmo quando por ora torna-se imperceptível;
Todas as idades num tempo de sabedoria coletiva.
Um copo de corações falantes,que toda noite olha pra cima
a procura de declarações de amor.
Senti os arrepios do meu pedido,como se a grande lâmpada cuspisse vento
soprasse a solidão reconhecida pelos poros
Encontramo-nos sempre que olhamos na direção certa
E ela me fala tanta coisa,a maioria coisas minhas
como se devolvesse aos poucos minha identidade
Como se concedesse em pequenos versos e gestos
as confissões que pedi que guardasse tempos atrás,
Boa moça,grande luz...
Inquieta e acalma na mesma fotografia
E por alguns momentos entendo tudo,por nada
nada realmente fazer um sentido correto e absoluto
Só o ceú disposto a acalentar os insones e insanos
como um berço,uma cadeira de balanço gigante que afoga e afaga
A noite também precisa de elogios,precisa de nossa paquera diária
Nossa participação na construção do grande arrepio.
Milhares e milhares de pessoas quando se comunicam com a lua
também visitam outros seres "desconhecidos"
por sensações,por intuições,por pequenos arrepios...
O vento leva sim,recadinhos para quem ainda não tivemos oportunidade de conhecer pessoalmente.E nos reconfortamos através desta visita aos nossos
quase que telepaticamente
Sinto-me inteira e dispersa
viva dentro da morte
quando olho a noite e suas canções de ninar.
Despertam-me a essencia de minhas atitudes.De quem realmente sou
quando converso com a natureza me localizo
Encontro o eixo novamente.
Não como ponto ou resposta mas como seguimento,como reticência.
-Passo Astronauta-
Sou descendente de astronauta....

Flô

Sobre o Escafrando e a Borboleta....




O que nos faz escutar as batidas do próprio coração,
como expectadores da memória e da imaginação
a calar a voz do corpo?
Os olhos continuam falando...
E existem também,na maioria das vezes escafrandos inventados.
Os piores?Os consentidos?Esses sequer escutam as batidas da própria vida.
Do lado de lá da casa amarela há pouco espaço para borboletas.
Aquelas que criei enquanto estive presa naquele escafrando são minhas
As batidas de suas asas ainda me deixam viva.
Todas as nossas pequeninas coisas,como estar escrevendo aqui...tão pouco valorizadas.
Só vimos quando a vida nos impôe um escafrando físico?
E como emergir agora desta casa-hospital-prisão?
Abraçando a solidão que bate a porta do quarto?
Aceitando esses laços tão dolorosos ou voando?
Meu escafrando não é concreto,não sou responsável por esta falta de ar.
A porta se abre e ela sai com seu escafrando espalhado pelo corpo
andando com uma dificuldade inquisidora e uma lágrima estriônica
Ali não se respira,mas e as cores de minhas borboletas?
Cansei de tentar mostrar a janela e o voo
Agora era eu, que me deixava tapar os poros da identidade
com um escafrando que não era meu...
As relações não precisam se repetir.
O que fazer com a morte deste homem em minhas mãos/?

Flô





O quarto me dizia das flores de fora
E como queria escrever sobre elas...
Mas tudo insistia em continuar parecendo mistério
Tudo preferia esconder-se fora do previsível quarto
E ele para além das janelas fechadas,continuava me falando dos risos de fora
e das calçadas que habitavam outros sapatos também encantados.
O quarto me dizia das dores.
Ela não seria exclusiva.
Partilhava também com o lado de fora, o que o quarto tinha intimidade
quando sair daqui quero voltar vez em quando para dizer como é lá dentro!
Dentro do lado de fora os quartos são mais apertados.São mesmo?
Que tamanho tem nosso cabimento?
Sou estreita mas passo.Quero ver lá fora.

Flô



Traços-estrelas que são olhos que choram a chuva das estradas que circulam.
Das flores e folhas nasce o céu--e os corações balões inflamados esperam a noite como a morte...
Conchas e ondas bebem dos poemas...

Nunca ganhei Flores.Espero.
a data todo mundo esquece
mas que importância tem?
Todas as flores aquelas gratuitas
e os bilhetes inusitados...
Só eu o faço?!



Minhas mãos te entregam as outras
Nas linhas dos caminhos escuros,
Escolhes a fuga conhecida
Dentro dos muros dos ombros doentes
a previsão das estrelas,que caem bêbadas no céu
Minhas mãos te concedem a dança,tecendo os tons do outro dia
Nas rugas dos rumos claros permites o beijo da sombra
Dentro do mundo:ossos quebradiços na estação do véu
Minhas mãos recorrem suadas a qualquer rosto disposto a moldar o riso
Dentro de um barro inútil,construo os pássaros mais alegres
E as cores das músicas que voam me dão de volta
aquelas mãos pequeninas,aquelas mãos que desenham as paisagens
que todas as vidas me esconderam.Minhas mãos dançam.


Adélia Coelho



O percurso do corpo entre as linhas,estagna?
O percurso do sangue entre as línguas--pause--liberdade de dedos--
E minhas esposas não bebem do altar
Minha igreja também é precipício
Caem escapulários e terços das nuvens gulosas
Pecados selvagens roubam a cena
Quebrem as pernas e portas,minha ressurreição é outra!
E meu amor nem me olha!
Certeza que visita e abandona
Silêncio.Peixe.Cravo.Saudade
Passado na rua ouvindo música,estátua
Hoje aqui deste quarto sem querer ouvi todas as tuas músicas
e senti todo o teu peso.
Criado mudo e aceso
Tua depresão declarada e nossa separação inflamada
que possibilidade?
Houve pouco tempo para o beijo...
E a morte na saliva...a morte na saliva
E a morte sempre em nossa despedida iminente
Não poderíamos ter nascido um no outro
Insistindo numa não dor...
não houve espeaço para a cura...
estávamos tão doentes,feridos com nós mesmos
Passou,querido,dorme agora em minhas lembranças...
Dorme bem.


Adélia Coelho



Continuação de certas passagens....



Minha casa quer aprender a andar de bicicleta sem rodinhas.O grito quer invadir paredes e portas que ainda me prendem.Arrombei,o que tiram de mim todos os dias.Só queria sair dali porque reconheço que não é o meu corpo.Não sou aquela casa.Sou outra parte que reparte-se e quer dançar,tomar vinho ,ver a madrugada e deixar chegar os versos desesperados...
Minha fome é minha casa e respeito meu corpo.Preciso unir o lar ao laço.O meu.


Refugio-me nos livros,depois de algumas páginas saboreadas de um e de outro..quem sabe...
quem sabe?Eu mesmo não sei.E se é mesmo preciso ou provável que para estar realmente vivo é necessário o conflito:Eis aqui tudo o que me trava e entope...
Tudo que me rasga e abandona...
Uma depressão estúpida ou apenas uma consciência mais adulta do constante conflito?


Adélia Coelho


Anotações sobre as últimas tempestades...



...Seria esta casa meu corpo?pronto,transeunte e habitado?
Seria esta casa colorida a superficialidade das roupas que tingem meu verso?
Seria este verde uma afronta?
Falei da casa--O caminho até lá é estreito?meu corpo também carrega marginalidade?
Tiroteio de desejos-----Que espaço dos outros o meu vão permite?
"O mundo está precisando de pessoas que se preocupem mais com o humano".
Desumana garota que maltrata a coragem..
Volto a me perguntar a casa sou eu?meu corpo unidade que rege?
Atravesso os incessantes impulsos e desejos dos últimos dias.
Não posso confessar meus crimes.
Ainda.As traças e cupins atrevem-se a me desafiar,querem que eu saia de casa:gaveta.
Corpo(morte ou vida?)
Sair do habitável que não constrói,ver além da poesia concreta,
a casapoesia-
Que precisa do movimento.


Sobre Inércia


Paralisia dos deuses preguiçosos e nada astutos.Vegetação de ossos que se degeneram com o sol
O corpo casa quer a ação que vem de dentro pra fora,na desconstrução de cada personagem que encaramos em nas etapas da vida.Minha maior verdade é ser mesmo esta personagem real e totalmente perdida..
Caminho/?quero quadros...


Vestir a cada dia uma roupa e um sorriso...E onde existe dissimulação nisso?
é o passo,a casa que anda,mutável,apta,mambembe...
quero a palavra do outro,o olhar a provocação,segue levando a bagagem,mas meu corpo quer platéia----Não como um chamado apenas,mas como pôster de minha casa.
Ali aberta,transparente---buscando outros em mim para presentear aos outros dos outros.
E que bela recompensa!Vestir a cada dia uma nova roupa..
A pesquisa no percursso,no improvável,no preenchimento das alusões e ilusões
no abraço,no toque atado do corpo-casa do outro.

Adélia Coelho

Quem sou eu

Minha foto
Eu vou,atrevida,pisando nos relógios sento-me nos relógios sou a bailarina da caixa de música que dança em cima dos ponteiros e ilumina mesmo sem querer o outro lado das batidas do tempo... Flô